Entomotropica
Vol. 18(3): 219-221. Diciembre 2003

ISSN 1317-5262


Aspectos biológicos da mosca do figo, Zaprionus indianus Gupta,1970 (Diptera: Drosophilidae)

César Pagotto Stein, Édson Possidônio Teixeira, José Polese Soares Novo

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade, Instituto Agronômico de Campinas, Caixa Postal 28, CEP 13.001-970, Campinas, SP. - E-mail: [email protected], [email protected][email protected]

Resumo

Stein CP, Teixeira EP, Novo JPS. 2003. Aspectos biológicos da mosca do figo, Zaprionus indianus Gupta,1970 (Diptera: Drosophilidae). Entomotropica 18(3):219-221.

A mosca do figo, Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae), foi registrada pela primeira vez no Brasil como praga do figo (Ficus carica var. roxo-de-valinhos), em março de 1999, em Valinhos, Estado de São Paulo, causando danos e reduzindo a produção ao redor de 40% e a exportação em 80%. Estudos sobre aspectos biológicos foram conduzidos em laboratório a 25 ± 1 oC, fotoperíodo de 14 horas, em dieta artificial com e sem suplemento alimentar (Saccharomyces cerevisiae). Observou-se que o período de incubação variou de 1,0 a 1,5 dias; período larval de 8 a 13 dias e período pupal de 4 a 9 dias. A longevidade dos adultos acasalados, com e sem suplementação alimentar, variou de 24 a 83 dias e 21 a 91 dias, respectivamente. A longevidade dos adultos individualizados com suplementação alimentar variou de 7 a 55 dias. As longevidades médias dos adultos individualizados e dos acasalados com e sem suplementação alimentar apresentaram diferenças significativas, o que não ocorreu entre as longevidades de machos e fêmeas. O número médio de adultos provenientes de casais sem suplemento alimentar foi 69,08 (33 _ 134), enquanto aqueles com suplementação produziram 255,93 (93 _ 698) adultos. A razão sexual observada foi de 0,56.

Palavras chave adicionais: Biologia, dieta artificial, Insecta.

Abstract

Stein CP, Teixeira EP, Novo JPS. 2003. Biological aspect of the fig fly, Zaprionus indianus Gupta, 1970 (Diptera: Drosophilidae). Entomotropica 18(3):219-221.

Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae) was registered for the first time in Brazil attacking fig (Ficus carica var. roxo-de-valinhos) in march of 1999 in Valinhos, São Paulo State, causing damage and reducing production about 40% and the exportation about 80%. Research on biological aspects were carried out in laboratory at 25 ± 1 oC, 14-hours photophase, in artificial diets with or without alimentary supplement (Sacharomyces cerevisiae). The incubation period ranged from 1.0 to 1.5 days; larval period from 8 to 13 days; pupal period from 4 to 9 days. The longevity of mated adults ranged from 24 to 83 days with alimentary suplement and from 21 to 91 days, without it. Life span of the isolated adults with alimentary supplement ranged from 7 to 55 days. The longevity of the isolated and mated adults, with and without alimentary supplement showed significant differences, which did not occurr between males and females. The medium number of adults originated from a couple without alimentary supplement was 69.08 (33 - 134) while the ones with alimentary supplement produced 255.93 (93 - 698) adults. The sex ratio observed was 0.56.

Additional key words: Artificial diets, biology, Insecta.


Introdução

A mosca do figo, Zaprionus indianus Gupta, 1970 (Diptera: Drosophilidae), foi registrada pela primeira vez no Continente Americano em frutos de caqui (Diospyros kaki L.) apodrecidos, no município de Santa Isabel (lat 23o12'00"S, long 46o12'00"W), Estado de São Paulo, Brasil (Vilela, 1999). Em março de 1999, esta mosca foi observada atacando frutos de figo (Ficus carica var. roxo-de-valinhos) em início de amadurecimento, antes da colheita, no município de Valinhos (lat 23o00'00"S, long 47o00'00"W). Até onde se sabe, ela não é considerada praga na sua região de origem (Coquillett 1902; Chassagnard and Kraaijeveld 1991; Vilela et al. 2000). A mosca deposita seus ovos no ostíolo do figo, e as larvas penetram no interior do fruto tornando-o impróprio para o consumo. Na época de sua constatação, ela chegou a causar cerca de 40% de perdas na produção de figo `in natura' e 80% de redução nas exportações. Durante as safras subseqüentes, os prejuízos continuaram expressivos e sua disseminação por outros Estados aumentou. Por se tratar de uma praga recém-introduzida, realizou-se este trabalho com o objetivo de estudar alguns aspectos de sua biologia em condições de laboratório.

Material e Métodos

A criação estoque foi iniciada a partir de larvas provenientes de frutos atacados colhidos no campo, no município de Valinhos, SP, Brasil. Os adultos obtidos foram transferidos para frascos de 250 ml, contendo aproximadamente 50 ml da dieta artificial utilizada no Laboratório de Drosofilídeos do Depto. de Biologia da Universidade de São Paulo - IBUSP (dois litros de água; 20 g Ágar-ágar; Purê de Banana - cinco bananas nanica maduras batidas em liquidificador com 250 ml de água; suspensão de levedo de cerveja - 30 g de pó e 250 ml de água; 35 ml de solução alcoólica de metilparaidroxibenzoato a 10%). A criação e demais etapas deste estudo foram conduzidas à temperatura de 25 ± 1 0C e fotoperíodo de 14 horas.

Os estudos de todas as diferentes fases de desenvolvimento da mosca tiveram como origem os ovos obtidos em cinco gaiolas de vidro (12 cm de diâmetro e 18 cm de altura) contendo aproximadamente 100 adultos cada. Placas de Petri (5,5 cm de diâmetro por 1,0 cm de altura), contendo dieta, foram introduzidas na gaiola por um período de cuatro horas para a obtenção de ovos. Amostras de 10 ovos foram isoladas em 10 destas placas contendo dieta, perfazendo um total de 100 ovos para o estudo de viabilidade e período de incubação. As leituras de eclosão das larvas foram realizadas com 24, 28, 32 e 36 horas após a introdução das placas nas gaiolas.

Ao mesmo tempo, utilizando-se o mesmo método anterior, 100 larvas recém-emergidas foram individualizadas em tubos (8,0 cm de altura por 2,5cm de diâmetro) com dieta e acompanhadas diariamente para a obtenção da viabilidade e período larval. Em outros 40 tubos, foram isoladas cinco larvas em cada um para a obtenção de pupas, a fim de se avaliar a viabilidade, o período pupal e razão sexual. Em ambos estudos foram fornecidos quantidades suficientes de levedura (Saccharomyces cerevisiae) como suplemento alimentar. Dos adultos recém-emergidos, 15 de cada sexo foram individualizados em tubos com dieta. Outros foram usados para formar 30 casais também isolados em tubos com dieta. Os adultos individualizados e 15 casais, receberam a suplementação alimentar de levedura. Neste estudo foram avaliados a longevidade do macho, da fêmea, da população e o número médio de adultos provenientes de cada casal. Todos os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P=0,05).

Tabela 1. Duração média (dias), erro padrão (EP) e viabilidade (%) dos estádios de ovo, larva, pupa e ciclo ovo-adulto de Zaprionus indianus criados em dieta artificial, com suplementação alimentar de levedura (Saccharomyces cerevisiae) à temperatura de 25 ± 1 0C e fotoperíodo de 14 horas.


 

Dura��o (dias)

Viabilidade

Est�dios

M�dia � EP

Varia��o

(%)


Ovo

1,28 � 0,11

1,0 � 1,5

88,89

Larva

10,34 � 1,77

8,0 � 13,0

76,00

Pupa

5,50 � 1,41

4,0 - 9,0

87,88

Ovo-Adulto

16,78 � 2,97

13,0 � 23,5

---


 

Resultados e Discussão

Os resultados da duração e viabilidade dos estádios de ovo, larva e pupa são apresentados na Tabela 1. A duração dos períodos de incubação, larval, pupal e do ciclo ovo-adulto (1,28; 10,34; 5,50 e 16,78 dias, respectivamente), foram bem próximos daqueles obtidos a 25 oC por Amoud et al.(1991) (1,78; 8,10; 6,45 e 16,20 dias) e, ligeiramente menores que os obtidos por esses mesmos autores com a temperatura de 22,5 oC (2,85; 7,45; 6,95 e 16,20 dias). O efeito do alongamento desses períodos decorrente da redução da temperatura também foi observado pelos autores acima referidos. Os valores menores observados por Amoudi et al. (1991, 1993) para a fase larval podem ser atribuídos à diferença na composição do alimento fornecido às larvas, que neste caso foi composto por uma meio de cultura comercial desenvolvido especificamente para criação de drosofilídeos.

A análise estatística mostrou que não houve diferença significativa entre as longevidades de machos e fêmeas, tanto para os adultos individualizados quanto para os acasalados. No entanto, considerando-se a longevidade de ambos os sexos, para cada condição testada, observou-se que houve diferença significativa entre elas (Tabela 2). A longevidade dos adultos individualizados (25,96 dias) foi menor que a observada para adultos acasalados que receberam suplementação alimentar (48,95 dias), que por sua vez, foi menor que aquela dos adultos que não receberam (65,39 dias). Para todos os tratamentos, a duração desta fase variou entre 7 a 91 dias, valores próximos aos encontrados por Amoudi et al. (1991, 1993), que foram de 10 a 85 dias e 6 a 95 dias, respectivamente.

Tabela 2. Longevidade (dias) e número médio de adultos por casal de Zaprionus indianus individualizados e acasalados, criados em dieta artificial, com e sem suplementação alimentar (Saccharomyces cerevisiae) à temperatura de 25 ± 1 0C e fotoperíodo de 14 horas.


Tratamentos

Longevidade (dias)

N�mero m�dio de adultos/casal

M�dia

Varia��o

M�dia

Varia��o


Individualizados

25,96 � 17,64 a

7 - 55

--

--

Casais com suplemento

48,95 � 17,24 b

24 - 83

255,93 � 185,74 a

93 - 698

Casais sem suplemento

65,39 � 18,77 c

21 - 91

69,08 � 34,17 b

33 - 134

C.V. (%)

21,14

--

12,03

 

O número de adultos emergidos, provenientes de casais com suplementação alimentar (255,93), também foi significativamente maior do que os provenientes de casais sem suplementação (69,08). Como ocorreu para longevidade, neste caso também houve grandes variações que, no entanto, também foram observadas nos resultados de Amoudi et al. (1993), quando estes avaliaram o número de ovos produzidos por fêmeas desta mosca.

A avaliação do número de machos e fêmeas emergidos das 176 pupas observadas revelou uma razão sexual de 0,56.

Esses resultados mostram o alto potencial reprodutivo desta espécie, fato que explicaria os altos níveis de infestação alcançados no campo logo após sua constatação como praga, quando ainda não se aplicava nenhuma medida de supressão de sua população.

Referências

Amound MA, Diab FM, Abou-Fannah SSM. 1991. Zaprionus indiana (Diptera: Drosophilidae) in Saudi Arábia and effect of temperature on life cycle. J King Saud Univ 3(2):111-121.

Amound MA, Diab FM, Abou-Fannah SSM. 1993. The influence of low temperature on development, adult longevity and produtivity of Zaprionus indiana Gupta (Diptera: Drosophilidade). J King Saud Univ 5(2):263-274.

Chassagnard MTh, Kaaijevld AR. 1991. The occurrence of Zaprionus indiana sensu stricto on paleartic region (Diptera: Drosophilidae). Annls Soc Entomol Fr (NS) 27(4):495-496.

Coquillett DW. 1902. New diptera from Southern Africa. Proceedding U.S. National Museum 24(1234):27-32.

Vilela C.R. 1999. Is Zaprionus indianus Gupta, 1970 (Díptera, Drosophilidae) currently colonizing the Neotropical Region? Drosophila Information Service 82:p. 37-39.

Vilela CR, Teixeira EP, Stein CP. 2000. Mosca-africana-do-figo, Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae). In: Vilela EF, Zucchi RA, Cantor F. editores. Histórico e Impacto das Pragas Introduzidas. Ribeirão Preto (Brasil): Holos Editora, p. 48-52.

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